Um depoimento: «Quando me casei»
E como era a juventude em Lisboa nos anos 70? Era divertida ou o ambiente era bafiento como o regime?
Era bafientíssimo. Quando me casei, os meus poderes sobre a minha mulher eram extraordinários. A gente ria-se disso, claro. Não levávamos isso a sério. Ela não podia viajar sem a minha assinatura e se ela fugisse de casa eu podia dizer à polícia para a prenderem e ma entregarem. Era uma figura jurídica chamada "devolução do corpo". Era uma coisa horrível. Quando eu cheguei à juventude já havia pouca gente que fosse fervorosamente salazarista, aquilo já durava há muito tempo, já tinha havido a II Guerra Mundial, o grande desenvolvimento económico dos anos 50 que foi uma coisa extraordinária, mas não mudou o regime e depois foi canalizado para o esforço de guerra. Sabíamos o que se passava em Paris, muito vagamente. Mas sabíamos que existia a Brigitte Bardot e havia filmes do [Roger] Vadim. Passavam aqui alguns.
[Entrevista a Vasco Pulido Valente, Público 20/10/18
Era bafientíssimo. Quando me casei, os meus poderes sobre a minha mulher eram extraordinários. A gente ria-se disso, claro. Não levávamos isso a sério. Ela não podia viajar sem a minha assinatura e se ela fugisse de casa eu podia dizer à polícia para a prenderem e ma entregarem. Era uma figura jurídica chamada "devolução do corpo". Era uma coisa horrível. Quando eu cheguei à juventude já havia pouca gente que fosse fervorosamente salazarista, aquilo já durava há muito tempo, já tinha havido a II Guerra Mundial, o grande desenvolvimento económico dos anos 50 que foi uma coisa extraordinária, mas não mudou o regime e depois foi canalizado para o esforço de guerra. Sabíamos o que se passava em Paris, muito vagamente. Mas sabíamos que existia a Brigitte Bardot e havia filmes do [Roger] Vadim. Passavam aqui alguns.
[Entrevista a Vasco Pulido Valente, Público 20/10/18
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