Canções escritas

Bob Dylan ganhou o prémio Nobel em 2016, o maior legitimador desde há um século da literatura a entrar no cânone mundial. (Muito embora haja bastantes premiados esquecidos e haja línguas nitidamente privilegiadas por uma simples razão: são as línguas que os membros da Academia Sueca sabem ler.) Ao receber o Nobel pelas letras das suas canções, Dylan de certo modo esvaziou esta entrada da disciplina: a escrita de canções pode ser uma variante da literatura? A resposta está dada pelo Grande Legitimador. (Ainda assim, reparo que nalgumas coisas Dylan é «centrão»: norte-americano, branco, cantando em inglês. O número de mulheres ou não-caucasianos recipientes do prémio é escasso. E a qualidade de um Pamuk, turco, um García Marquez, colombiano, um Imre Kertész, húngaro, um Saramago, português, estará talvez noutro nível que muitos premiados mais ou menos recentes - embora obviamente o critério seja discutível, porque o gosto é inefável.

FMI  (1979) é um texto de José Mário Branco, cantador maior português, um rap avant la lettre ou sermão ou auto vicentino ou sei lá o quê. 
A parte final aqui.

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